por Marília Pontes
No último dia do Rio Moda Discute Internacional 2016 – RMDI, realizado no Fashion Mall/Rio de Janeiro pelo Instituto Rio Moda, a Música foi a estrela sob o ponto de vista masculino. Para falar sobre o tema “A Música que você veste” na mesa de discussão mediada por Alessandra Marins, foram convidados Alex Sheeny (Pyramid), Rick Yates (Another Hot Brand) e Ricardo Brautigam (The BlackHaus). Além do design, os três trabalham com branding, que é o serviço responsável por criar ou desenvolver o conjunto de símbolos que identificam uma marca, seja por cheiro, música, logo, enfim, a partir todos os atributos que ela tem e eles mostram como ela pode melhor usar isso para conquistar seu público.
No último dia do Rio Moda Discute Internacional 2016 – RMDI, realizado no Fashion Mall/Rio de Janeiro pelo Instituto Rio Moda, a Música foi a estrela sob o ponto de vista masculino. Para falar sobre o tema “A Música que você veste” na mesa de discussão mediada por Alessandra Marins, foram convidados Alex Sheeny (Pyramid), Rick Yates (Another Hot Brand) e Ricardo Brautigam (The BlackHaus). Além do design, os três trabalham com branding, que é o serviço responsável por criar ou desenvolver o conjunto de símbolos que identificam uma marca, seja por cheiro, música, logo, enfim, a partir todos os atributos que ela tem e eles mostram como ela pode melhor usar isso para conquistar seu público.
Alex Sheeny
é designer industrial e trabalhava na estamparia da Osklen, uma marca carioca. Após
sair dessa grife, ele abriu a Pyramid com sua esposa. Ele esclareceu que todas
as referências da marca vêm da música
vintage dos anos 1960 e 1970, mas relacionadas com o quesito tropical a fim de
mostrar como as influências externas foram traduzidas no Brasil. Além
disso, ele é músico e tem uma banda. Quando questionado sobre o processo
criativo da marca, Alex afirmou que a Música tem um papel importante ao longo
dele, mas a referência não deixa de ser psicodélica (o que engloba os vários
ritmos que usaram esse dado como marca para se sustentarem comercialmente). No
que tange as inspirações gráficas da Pyramid, Alex disse que se inspiram nos
vinis, pôsteres, bem como no background deles e das próprias músicas.
Rick Yates
teve o primeiro contato com a Moda na loja da Osklen em que trabalhou para
pagar a faculdade de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica – PUC/RJ. Quando
se formou, fez pós-graduação em Recursos Humanos e se mudou para Berkeley, nos
Estados Unidos. Depois de voltar para o Brasil, montou uma banda, continuou a
trabalhar com marketing, mas passou a se envolver com arte, teatro, curadoria
etc. Nessa área, trabalhou nas marcas cariocas Cantão, Reserva e Eva. Atualmente,
Rick faz o visual merchandising da
grife carioca Mercatto. A marca Another Hot Brand tem e-commerce e um estúdio para showroom. A ideia da marca é "me dê uma boa ideia para sair de casa e
essa ideia envolve uma experiência sensorial através da arte e da música".
Ela surgiu enquanto Rick ainda trabalhava no Cantão, durante um brainstorming informal entre amigos
sobre o que fariam se tivessem uma grife própria.
Ricardo Brautigam,
também conhecido como Cadinho, é designer gráfico formado na Pontifícia
Universidade Católica – PUC/RJ. Ele era sócio da marca Aüslander, cujos diferenciais
eram a modelagem, tecidos e ambiente, todos inspirados no estrangeiro e no rock,
justamente para fugir um pouco da identidade da Osklen, que já dominava o
mercado. Por conta dessa nova atmosfera, começaram a fazer muitas festas nos
desfiles. Seguia o blog do estilista Hedi Slimane – que, para Alessandra,
trouxe uma nova noção de estética, inclusive para a Saint Laurent, pois tem um
perfil ligado às artes e na música - e fez um desfile inspirado nele. The
Freaks are Chic foi outro desfile inspirado na música e o de 2009 foi inspirado
no festival Coachella, com a participação da banda Dragonete durante a
apresentação. Sobre o processo criativo, no caso da Aüslander, Cadinho explicou
que a trilha da coleção vinha depois, não durante esse processo. Há dois anos,
ele saiu da marca e criou a The BlackHaus, em que ele faz o que fazia na Aüslander
(relações públicas, consultoria e branding).
Alessandra Marins perguntou a eles quem consumia mais música na roupa e Cadinho
respondeu que a mulher. No caso da Aüslander, eram vendidos produtos básicos,
mas as músicas davam conteúdo às peças, que "ficam mais
moderninhas".
Sobre se os músicos vão começar a assinar coleções no Brasil, Rick respondeu
que acha que sim. Inclusive, no Cantão, fizeram uma coleção cápsula com Letícia
Novaes, a cantora do Lettuce. Ele gostaria de ver mais construções com novos
artistas porque a colaboração ajuda a construir carreiras. Alex concordou
porque a deficiência das marcas atuais é
na formação de conteúdo espontâneo e a música, por exemplo, ajuda muito nisso.
Quando artistas independentes participam disso, trazem uma identidade mais
forte, bem específica de um dado segmento que é o seu próprio público.
Inclusive, está difícil vender produtos. No próprio Facebook, só se fala de
problemas e as pessoas não prestam atenção a essa forma de divulgação. A
conexão do público alvo com o produto é mais forte através da música do que só
através de um anúncio. Cadinho acrescentou que no Coachella vê-se muita Moda.
Muitas marcas fazem coleções específicas para o festival. Muitos estilistas
criam para a música. Muitos músicos têm stylists. Isabela Capeto criou para a
Roberta Sá, por exemplo.
Quanto a como estão os festivais de
música hoje, os convidados falaram que muitas marcas querem deixar de fazer desfiles para fazerem festivais, pois músicos
são formadores de opinião sempre. Sobre a atividade de branding, Cadinho
disse que a BlackHaus está mais nos eventos e em uma marca de Moda do que na
música, por exemplo. Alex, por sua vez, desenvolve identidade visual gráfica e
trabalha com cervejarias artesanais e de marcas maiores, que apoiam alguns dos
festivais que acontecem no Brasil. Rick tem atendido bares e grupos de
restaurantes, mas o que mais gosta de fazer é pesquisa de benchmarking para
chegar numa identidade e numa persona, pesquisas com métodos de design para
saber missão, pilares da marca etc., pois o branding não pode estar
desassociado da meta do negócio.
A respeito de como é o processo
de branding para cada um deles, considerando a identidade própria de suas
marcas tão forte, Rick acha que a questão é saber até onde pode ir e dar à
marca o que ela precisa. Essa diferença gera aprendizado muito rico. Alex
acha que é selecionar um trabalho que siga mais ou menos a sua própria linha e
essa seleção ocorre na fase inicial de entendimento, em que ele sabe qual o
objetivo do cliente com o branding. Já Cadinho gosta de
desafios e começou a abraçar serviços que não tinham muita relação com ele. O
processo criativo é mais intenso para poder entrar naquela atmosfera e deixar com
o DNA do cliente músico. O importante é deixar o cliente feliz.
Montagem
feita com as fotos expostas no slideshow do evento com cantoras que se destacam
na Moda. Nicki Minaj, FKA Twigs, Madonna e Lady Gaga (em sentido horário a
partir da esquerda) Montagem: Marilia Pontes
O último talkshow do RMDI contou com a participação de Fabien Guyon (relações públicas de Moda para bandas e músicos), Mary Olivetti (DJ e diretora da Rádio
Ibiza) e Renato Ratier (D. Edge
Records). Mediados pela jornalista Maria
Prata, eles discutiram sobre o tema “Business:
branding musical e empreendedorismo” mas, antes disso, Roberto Meireles, do
Instituto Rio Moda, deixou sua mensagem a respeito da inteireza. Manter nossa identidade praticando a individuação ao
mesmo tempo em que multiprocessamos as diversas informações recebidas
incessantemente é, certamente, um desafio. Ao lado da confiança e da cocriação,
é necessária a inteireza para consigamos também ser flexíveis para melhorar o
ambiente que construímos e em que vivemos. Essa foi a lição final que o
Instituto Rio Moda quis deixar com o RMDI 2016, apontando a Música e a Moda
como campos de exercício para essa transformação.
Fabien Guyon,
Mary Olivetti, Renato Ratier e Maria Prata. Foto: Marilia Pontes
Após trazer o debate sobre a música e o
artista no primeiro dia, continuando com as interfaces entre Moda e Música no
segundo, nada mais justo que concluir o evento falando sobre business. Assim, Mary Olivetti deu início a sua
apresentação explicando que começou na Moda trabalhando na Farm e lá foi sua
grande plataforma de experimentação, inclusive musical. O caso dessa marca foi
inovador, pois ela percorreu vários caminhos e está inserida em diversas mídias
para divulgar sua identidade e o estilo de vida de seu público-alvo. Além de
ter sido pioneira em criar um setor de branding para desenvolver métodos de
experiência sensorial para suas lojas e produtos, Mary Olivetti também
participou de outros projetos da Farm como a Rádio Farm, a trilha sonora de
cabine – cujo dispositivo foi projetado por ela, após se tornar artista gráfica
-, o sound design das playlists das
lojas, que é uma técnica em que se introduz pequenas interjeições entre as
músicas que transportam a cliente para o ambiente da “garota Farm”, por
exemplo, sons das praias de Ipanema. Após ter saído dessa marca e começado a
trabalhar na Rádio Ibiza, Mary – que é DJ de house - disse que adquiriu cultura
musical e conheceu diversos segmentos. Atualmente, ela se dedica a fazer a
identidade musical para grifes de Moda feminina e trabalha com mais de 100
delas. As playlists que prepara são montadas a partir de um estudo minucioso
com imersão em cada marca, com a construção de uma persona específica - que
acrescenta um aspecto mais humano àquilo que a grife identifica -, adaptação
aos temas de coleção, se houver, e em consonância com o objetivo da marca,
alinhando interesses dela, da equipe de loja e dos clientes. Essas playlists
são atualizadas mensalmente e ela tem dedicado especial atenção a novos
músicos. A Rádio Ibiza tem 9 anos e é líder de mercado na prestação desse
serviço de branding musical.
Renato Ratier é um empreendedor da
Música e da Moda. Nascido numa família que lida com agronegócio em Campo Branco
(MS) e com uma mãe que é artista plástica, seu destino era permanecer nesse
ramo. Contudo, ele sempre gostou de Música e tinha vários CDs que comprava na
loja de um grande amigo. Então, ele montou a fanzine Sub Culture e uma loja, a
Valet, e passou a organizar festas na sua cidade, tornando-se um verdadeiro agitador
cultural. Renato abriu uma segunda loja, a Tilt, que atendia a um segmento mais
psicodélico para o público das raves e da música eletrônica. Para tanto, ele
mantinha uma confecção que atendia a ambas as lojas. No ano 2000, ele inaugurou
o clube D. Edge em Campo Grande e, em 2003, em São Paulo. Renato disse que,
para ele, é importante atuar em áreas diferentes, pois ser multifacetado tem
relação com sua personalidade e tudo isso demonstra uma verdade que lhe é
prazerosa. Contudo, se ele não tivesse uma boa equipe que o apoiasse, talvez
nada disso fosse possível. Em 2015, ele fundou a grife Ratier, que participou
da última edição da São Paulo Fashion Week – SPFW, e falou da necessidade de os
designers de Moda se abrirem para as influências das artes, música, arquitetura
etc. A última coleção dessa marca, por exemplo, foi inspirada na escola alemã
de design e arquitetura Bauhaus e, na loja da Ratier, também são vendidos
objetos de arte. Naquele mesmo ano, Renato abriu um restaurante – estúdio
chamado Bossa em São Paulo e, em 2016, inaugurará um espaço multicultural no
Rio de Janeiro.
Renato Ratier falando
sobre sua grife Ratier. Foto: Marilia Pontes
Fabien
Guyon é francês e atua há 15 anos como relações públicas. Sua
apresentação começou com uma reflexão sobre o que se pensa sobre Moda e Música,
pois são dois assuntos sobre os quais todo mundo tem uma opinião, mas, no que
tange a união das duas, o espectro se torna mais amplo. A Internet foi um dos
agentes que modificou essa relação nos últimos anos, mas, antes dela, é
possível apontar outros highlights. Primeiramente,
quando se trata de propaganda, a Música é instrumento para a Moda e vice-versa,
uma promove a outra e isso independe do tempo e do espaço – por exemplo, uma
canção famosa no passado, pode se tornar popular novamente graças a um anúncio
de uma roupa -; nos desfiles, antigamente, os trajes eram narrados, mas hoje é
impossível fazer uma passarela sem música, principalmente se ela for eletrônica;
outro caso é a estratégia visual de uma banda, por exemplo, que pode ou não ser
planejada e se tornar moda ou não, mas há impactantes exemplos em que o estilo
de uma delas se tornou marca de um tempo; a Moda constantemente se nutre de
referências musicais para criar novos designs – por exemplo, a calça da
Zadig&Voltaire que tinha um bolso para palheta de guitarra – e para
homenagear grandes artistas – Raf Simmons se tornou conhecido por um desses
feitos -; a Música pode ser a peça chave para o DNA de uma marca de Moda –
algumas delas participaram ou foram citadas no RDMI, como a Ellus. Além disso,
ele disse que como relações públicas de bandas, ele é responsável pelo styling,
merchandising, enfim, toda comunicação visual e musical.
Fabien Guyon.
Foto: Marilia Pontes
Para
concluir, Fabien levantou o questionamento sobre qual o futuro da Música, visto
que ela só está gerando rendimentos para poucos grandes artistas e a combinação
skinny jeans + jaquetas de couro perfecto já viraram modismo. Para ele, esse
futuro está nas marcas de Moda, que devem aproveitar as oportunidades que a
Música gera, principalmente porque os ciclos de cada uma são diferentes, então,
sempre há como se renovar.
A
ideia final deixada por Fabien ratifica o que praticamente todos os
participantes do RMDI disseram, portanto, esse pode ser um caminho para superar
o momento vivido no Brasil com confiança + cocriação + inteireza.
Para ver o resumo do dia 1 clique aqui
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